sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Rhogan

Apenas experimentando a tablet que eu herdei do meu amigo Motta Lima

Valeu amigão!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

terça-feira, 8 de setembro de 2009

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A comovente estória do gordo que queria ser ator mas que não passava de uma máquina de lavar

Texto de Cassiano Farias

O gordo se olhou no espelho e, com as mãos no rosto, exclamou:

- Pelos deuses, pelos deuses... Por que não consigo ser ator de verdade? - e logo em seguida passou o dedo indicador no umbigo só para sentir cosquinha e rir de si mesmo.

Para o (seu) cúmulo, o máximo que conseguira até então foi atuar em comerciais, porém sempre como um objeto inanimado. Aquilo o frustrava demais. Sua maior "fala" foi quando interpretou uma máquina de lavar, produzindo, por uns dez minutos (quatro segundos na edição) um barulho parecido com vvvvvvrrrrruuummmmm, chop, chop, chop, sendo inclusive aplaudido pela crítica. Continuava figura anônima, todavia, mas seus amigos sempre pediam para que interpretasse novamente a máquina de lavar, proposta que muito gentilmente declinava.

O gordo já estava cansado daquilo tudo. "Posso ser mais", pensava ele com incrível confiança em si mesmo, "que uma maldita máquina de lavar". Por um lado, isso até era verdade: já interpretara uma mesa. Mas ele queria ser mais que apenas um móvel ou um eletrodoméstico.

E o tempo lhe foi generoso, dando-lhe um pequeno papel numa sitcom (o leitor há de convir que não importa saber em qual programa o gordo foi atuar; o que importa é que diria enfim alguma coisa que não só onomatopéias). Logo no primeiro dia de filmagens, porém, ocorreu um bizarro incidente: enquanto ele, num canto, meditava acerca de sua participação, alguém lhe arremessou uma roupa encardida. O gordo riu, julgando ser aquilo uma espécie de trote; mas na segunda vez, terceira e dali por diante, sempre que ele estava no set, num cantinho, as pessoas continuavam a lhe arremessar roupas encardidas. Isso sem contar as vezes em que no meio da gravação o diretor, com um charuto no canto da boca, apontava para ele e berrava:

- De novo largaram esse bagulho no meio do set! Ô produção, faz o favor de tirar isso daí! - e lá ia o gordo explicar que o "bagulho" era ele próprio, o que levava sempre o diretor a dizer "chucrute, mil perdões!"

A situação foi aos poucos se tornando insustentável. Os atores o ignoravam, alegando que não viam ninguém à sua frente, exceto uma mesa, um pequeno armário ou, como de praxe, uma máquina de lavar. E, enfim, o diretor foi lhe fazer um pedido:

- Olha, você até que está bem no papel, mas seria melhor ainda se interpretasse, sei lá, uma máquina de lavar... Que tal uma máquina de lavar, hein?

Ao ouvir tal proposta, o gordo perdeu o controle de si mesmo e, parecido com o que se fazia nos tempos dos Patriarcas de Israel, rasgou sua própria camisa, entre insultos dirigidos ao diretor - insultos os quais deixo à cargo da imaginação pérfida do leitor. Atirou-se ao chão, rolando de um lado para o outro, ao mesmo tempo em que não parava de chorar.

O diretor, comovido, começou a lhe falar de modo suave:

- Meu amigo, você tem de entender que não dá para se revoltar contra aquilo que você é. Você nasceu com um talento que ninguém tem. Nunca vi uma pessoa que se passasse tão bem por uma máquina de lavar.

O gordo se acalmava. Ergueu-se pesadamente, com o cabelo desalinhado e pança e rosto meio sujos, sentou-se e apenas soluçava. Então o diretor retirou do bolso dois charutos, oferecendo um ao triste homem, que muito gentilmente declinou. Tratou de acender o seu, guardando o outro e, com uma mão no ombro do infeliz e sorrindo, continuou:

- Você nasceu com um dom! Olha, para você ter idéia, juro por Deus que se eu estivesse distraído agorinha, agorinha, jogaria minha maldita cueca que está para lavar na tua cabeça! Você não faz idéia do que tem, não faz idéia, não faz...

- Diretor, respondeu o gordo, obrigado, muito mesmo!

- Oh, gordo...

- Oh, diretor!

Ambos se abraçaram, emocionadíssimos, e só não se beijaram porque semelhante ato repugnava-lhes a natureza. Algumas pessoas que chegaram a passar por perto daquela cena estranharam o fato do diretor estar falando aparentemente com um armário, abraçando-o e chorando. "Já vi que hoje será um daqueles dias", pensou alguém.

E assim, investindo em seu próprio talento e com o auxílio do diretor, o gordo decolou em sua carreira. Tal foi seu sucesso que no Oscar chegaram a inventar a categoria melhor ator/atriz mais parecido com um objeto inanimado. Sylvester Stallone e Tom Cruise ganharam, é verdade, em certas ocasiões. Mas o gordo era quase imbatível, levando muitas estatuetas para sua luxuosa mansão, alcançando glória e opulência. E viveu em felicidade até o fim de seus dias.
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Cassiano Farias é um amigo de longa data. Escreve como poucos, e aos interessados sugiro que conhçam seu blog. Tem textos sobre tudo e mais um pouco. Meus preferidos são estas hilariantes ficções absolutamente sem sentido.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

sexta-feira, 10 de julho de 2009